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Continuo Andando


Continuo andando

Sem olhar pra trás

Com os olhos fixos no horizonte

Manchados de sangue

De tanto chorar

Tento não olhar para os lados

Para não perder a direção e os sentidos

Mas sempre esbarro na distração

A origem de tantas cicatrizes

Meus pés estão cansados

Mas prefiro andar descalça

Tiro as roupas

Para enfrentar o frio

Só assim me sinto livre

Avisto um lindo horizonte

Cheio de cores e luz

Posso quase tocá-lo e sentir o seu cheiro

Mas é o desejo de alcançá-lo que dele me aproxima

Antes dele, vejo longos caminhos

Que convergem e divergem

Meus olhos sangrentos se perdem

E me deparo com as escolhas

Descubro que elas podem me salvar ou destruir

E que delas não posso fugir

Quanto mais desejo,

Mais se afasta o horizonte

E maior é a minha ânsia por alcançá-lo

Choro sangue e abro feridas nos pés

Vejo-as cicatrizar

E algumas se abrem novamente

Busco força e inspiração

Mas encontro medo e solidão

Insisto na caminhada...

Conheço poucas pessoas

Passo por várias

Admiráveis, desprezíveis

Encantadoras, cruéis

Algumas deixam marcas inesquecíveis

Outras, somente passam

Os caminhos estão cada vez mais entrelaçados

Confundem-se como em um labirinto sem fim

Por vezes pareço dar voltas ou recuar

Em vez de seguir em frente e avançar

Minha respiração está ofegante

O cansaço toma conta do meu corpo

E o desânimo, do meu coração

Meu coração está imerso em um profundo vazio

Ocupado por farpas e espinhos

Os dias tornam-se curtos

E as noites, intermináveis

Minha visão do horizonte está desvanescendo

Ameaça desaparecer

Encontro desertos

E o mar não passa de uma ilusão

Encontro flores murchas

E árvores com folhas secas

Depois de muito caminhar,

Decido sentar-me, desistir

Entrego-me ao desespero

O desespero me consome pouco a pouco

E não há brisa que o alivie

Até que vejo uma luz

De um brilho interminável

Parece ter todas as cores e nenhuma

Espalha calor e energia

Desejo que, ao menos, um ínfimo feixe daquela luz

Invada meu corpo, já fraco e debilitado

A luz vem com a força de uma maré

Parece lavar-me com a mais pura água

Sinto-me renovada, leve e forte

Fecho os olhos, desejando somente sentir a transformação

Que se fazia em minha alma

Sinto uma força indescritível

Logo desejo abrir os olhos

E prossigo na caminhada...

Meus pés, embora cansados,

Parecem saber para onde me levam

Meus olhos, embora sangrentos,

Estão bem abertos e irradiam luz

Sinto-me feliz e calma

Agora fujo de todos os empecilhos à minha frente

Sinto que estou desvendando novos caminhos

Por onde ainda não havia passado

Sigo com a curiosidade de uma criança

E a determinação de uma mulher

Sinto-me forte como uma guerreira

Sensível com um anjo

E sábia como um monge

A luz está lá o tempo todo

Lá e por todos os lugares

Envolta e dentro de mim

Quanto mais a desejo,

Mais a tenho

Finalmente, encontrei o horizonte.

10/11/2012


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